Dormir pouco ou demais pode afetar a memória, especialmente dos idosos. Um novo estudo americano foi o primeiro a associar esse problema à duração do sono a partir da meia-idade num número expressivo de participantes. Publicada no dia 1º de maio na “The Journal of the American Geriatrics Society”, a pesquisa coordenada pelo Brigham and Women’s Hospital, em Boston, nos EUA, avaliou 15.623 mulheres acima de 70 anos, saudáveis, sem qualquer indício de acidente vascular cerebral ou depressão na avaliação inicial. Segundo os resultados do estudo, mulheres que dormiam cinco ou menos horas, ou, por outro lado, mais de nove horas por dia, tinham uma memória pior, equivalente a dois anos a mais de idade. Além disso, mulheres cujo padrão de sono variava mais de duas horas ao longo do tempo também eram prejudicadas.

— Dada a importância de se preservar a memória no envelhecimento, é essencial identificar fatores influentes, tais como hábitos do sono — defende Elizabeth Devore, autora do estudo. — Os resultados sugerem que ter um padrão regular de sono, que é de sete horas por dia, ajuda a manter a memória dos mais velhos, e que intervenções clínicas baseadas na terapia do sono podem servir como um fator de prevenção contra o declínio cognitivo.
Mais estudos necessários
Ela admite, entretanto, que mais estudos são necessários para compreender por que existe esta relação.
O especialista Einstein Camargos, professor de geriatria da Universidade de Brasília (UnB), explica que a relação entre pouco sono e perda de memória já está bastante estabelecida na literatura médica. Ele cita um estudo do ano passado publicado na revista “Science” mostrando que dormir menos de sete horas por dia pode aumentar o risco do desenvolvimento da doença de Alzheimer, que acomete idosos e cujos sintomas incluem a perda de memória. Dormir demais, por outro lado, pode estar associado a outros fatores que, por sua vez, também afetam a memória.
— Na verdade, não são necessariamente as horas de sono a mais que vão prejudicar a memória. É que, geralmente, a pessoa que está dormindo demais tem algum outro problema, como a apneia ou síndrome das pernas inquietas, por exemplo. Ela dorme mais para compensar o sono de má qualidade.
Camargos alerta que o idoso é o que mais precisa de cuidados para ter um sono melhor

— Se o indivíduo não dormir bem esta noite, amanhã ele já terá memória deteriorada. E os idosos são mais prejudicados, pois eles já enfrentam o envelhecimento do cérebro. Quando há uma sobrecarga, como o sono ruim, eles imediatamente sofrem perda de memória.
Carmagos defende que o “idoso saudável terá um sono saudável”. O especialista combate a ideia disseminada de que, na terceira idade, uma pessoa necessita de menos horas de sono do que antes.
— O número de horas necessárias nessa faixa etária ainda é controverso. O mais importante é o sono de qualidade, aquele que é suficiente para ele restabelecer as energias.
E foi incisivo com relação ao uso de medicamentos:
— Há até pouco tempo, tratar o sono com remédios era mal visto por uma série de fatores. Hoje, estudos mostram que o importante é ter um sono satisfatório nesta faixa etária, mesmo que induzido.
No estudo da “Science”, por exemplo, pesquisadores concluíram que o bom sono, seja natural ou induzido, reduziam os riscos de Alzheimer nos idosos. (Flávia Milhorance)

Fonte: O Globo